Com o posto de comandante-geral da Brigada Militar, o coronel João Carlos Trindade assumiu, na sexta-feira, uma missão quase impossível. Ele tem o desafio de recolocar nas ruas pelo menos 1,2 mil PMs que atuam em áreas administrativas, presídios e gabinetes de deputados. Isso sem contar os lotados em bandas militares – uma instituição dentro da corporação.Quase bicentenária, a Brigada acumula distorções. Enquanto faltam 11 mil policiais (há 22,3 mil PMs, e o ideal seriam 33,4 mil) em seus quadros, cede 104 PMs para a trabalhar na Assembléia e no Palácio Piratini, destina mais de uma centena de praças para atuar exclusivamente em suas bandas, concentra mais policiais onde há menos crimes e conta com 400 coronéis na reserva para um universo de apenas 24 em atividade.Na Brigada, algumas soluções provisórias tornam-se definitivas. É por isso que PMs deslocados para administrar cadeias gaúchas, em 1995, numa operação prevista para se encerrar dentro de seis meses, permanecem até hoje no Presídio Central e na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas. Sem perspectivas de deixar as prisões, terão seus efetivos ampliados nos próximos dias, alcançando 548 PMs.Os paradoxos também são percebidos no centro do poder. Na Assembléia Legislativa, lotados em gabinetes ou na segurança da presidência, há pelo menos 15 policiais. Atravessando a rua, no Palácio Piratini, à disposição das casas Civil ou Militar, outros 86 praças e oficiais trocam o combate ao crime por ambientes acarpetados e salas refrigeradas. A Brigada ainda mantém em seus quadros 115 policiais com uma única e exclusiva dedicação: tocar na banda.– Tudo bem que são músicos, mas no frigir dos ovos é tudo brigadiano. É um efetivo superior ao existente em 90% dos municípios do Estado – comenta um oficial do QG.Coronel reformado da PM paulista e ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho salienta que bandas fazem parte do cotidiano militar, mas rumam para redução de seus quadros.– Em São Paulo, as bandas chegaram a contar com 600 integrantes. Hoje, deve ter em torno de 200 PMs num universo de 95 mil policiais. Parece que a banda da Brigada está um pouco inchada – pondera Vicente.A Brigada ostenta, ainda, critérios curiosos na distribuição de sua força. Na comparação entre duas cidades de mesmo porte, a que tiver menos assaltos, roubos de veículos e latrocínios terá mais PMs e viaturas. Os exemplos de São Leopoldo (207,7 mil habitantes) e Rio Grande (194,3 mil) ilustram a aberração. Com populações semelhantes, São Leopoldo, mais violenta, conta com 289 PMs, enquanto que em Rio Grande há 340 praças e oficiais.Na gestão dos recursos econômicos e materiais, Trindade também irá deparar com desafios. Ao longo dos anos, sucessivas contas da BM têm sido aprovadas com restrições pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). As falhas mais freqüentes estão no pagamento supostamente irregular de diárias e no abastecimento dos veículos.O uso adequado das viaturas será motivo de tensão adicional para o novo comandante. Praças e oficiais entendem que picapes Ford Ranger – compradas para combater o abigeato no Interior, mas deslocadas em setembro para bairros da Capital – transformaram-se em “elefantes verdes”.– São pesadas, bebem gasolina e perdem para qualquer carro leve. Se iam deixar em Porto Alegre, por que não comprar carros leves? – questiona um tenente-coronel.A favor do comandante recém-empossado pesa o prestígio que goza dentro e fora da Brigada. Um dos mais entusiasmados com a chegada de Trindade ao comando é o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri:– O coronel Trindade representa uma possibilidade de avanço e modernização. O Rio Grande do Sul dará um grande salto de qualidade, inclusive nas suas relações com o governo federal.
Fonte: Zero Hora 21/12/2008
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