Depois de tumulto oficiais e praças reclamam de estilo do coronel que comanda a Brigada
O confronto entre PMs e integrantes de movimentos sociais, quinta-feira, na Praça da Matriz, em Porto Alegre, abriu mais feridas do que as produzidas por cassetetes, paus e pedras. O episódio expôs um desconforto dentro da Brigada Militar que há tempos angustia a tropa: a atuação do comandante-geral, coronel Paulo Roberto Mendes.Oestilo Mendes de se fazer presente e convocar veículos de imprensa para todos locais de ocorrências de vulto desde sua ascensão ao subcomando em janeiro de 2007, tem constrangido subalternos. Foi o que ocorreu na Praça da Matriz, quando Mendes interferiu diretamente na condução dos trabalhos.– Ele fez o que se chama de quebra de canal de comando. Chegou dando ordens a capitães e soldados e ignorou o comando dos coronéis que vinham conduzindo a ação. Foi constrangedor – relata um oficial.PMs avaliam que a forma de atuar de Mendes está mudando até o tipo de antagonismo presente em manifestações. Antes, a situação era de “manifestantes versus Brigada”. Agora, há uma personalização: é “manifestantes versus Mendes”. No incidente de quinta-feira, ficou clara a tensão entre o comandante e deputados da oposição que foram ao local.– Eles se encaravam de um jeito que um oficial desconfiou que iam se atracar. O coronel chegou a ser isolado para amenizar o clima – lembra um PM que esteve na ação.A avaliação geral por parte de PMs e de integrantes da Marcha do Sem é de que o protesto se encaminhava bem até a chegada de Mendes.– O movimento era pacífico, mas, aí, o comandante apareceu e se formou o tumulto. Eles (manifestantes) sabem que o Mendes não dá muita conversa. Era certo que iriam aparecer uns três ou quatro que gostam de confusão para serem agredidos e depois reclamar – afirma um graduado oficial do Comando de Policiamento da Capital (CPC).Os comandantes de unidades que atuaram no protesto refutam divergências com Mendes e sustentam que houve consenso nas decisões, mas nos bastidores o clima de mal-estar é evidente.– Ele quer aparecer demais e está tirando espaço dos comandantes de unidades. Quem tinha o dever de estar na Praça da Matriz era apenas o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (tenente-coronel Carlos Bondan) porque é área dele, e o comandante do CPC (coronel Jarbas Vanin) – analisa outro oficial.Empurra-empurra virou agressões mútuasÀs insatisfações no oficialato somam-se queixas de PMs que atuam na linha de frente de confrontos, como soldados do Batalhão de Operações Especiais (leia depoimento).– Vamos falar com o coronel Mendes. Estão batendo em servidores que pedem melhores salários. E quando chegar a nossa vez? Faremos uma paralisação em novembro. Vão bater nos colegas? – desabafa Leonel Lucas, presidente da Associação de Cabos e Soldados.Na Praça da Matriz, Mendes mandou bloquear a progressão de um caminhão de som que se posicionaria diante do Piratini. A justificativa do coronel era o risco de atropelamentos. A medida irritou os manifestantes, e o motorista do caminhão avançou sobre PMs que faziam o isolamento.A partir daí, começou um empurra-empurra que se transformou em agressões mútuas. PMs com escudos batiam de cassetete e lançavam bombas de efeito moral. Os manifestantes jogaram bandeiras e depois tiraram pedras do calçamento da praça e arremessaram contra os policiais. O saldo foi de pelo menos 10 manifestantes e dois PMs feridos.Onde estou, eu tomo decisões. Soube de um fato anormal no banco e dei ordem para colocar as coisas no lugar. Eu estou em todos os lugares e vou fazendo correções nas ações. São ações de comando. Não deixo as coisas na mão de qualquer um. Às vezes, em conversas, me convencem de que não é o melhor caminho e eu recuo. Mas sou uma pessoa de decisão. A minha aproximação com os soldados incomoda. Oficiais não gostam. Acham que coronel tem de tratar com coronel. Acham que é quebra de comando. Quanto ao uso da força, se invadir, tem de sair. Não aceitamos nada que perturbe a ordem pública. E um comandante não pode ter medo.
Fonte : ZH 18/10/2008
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