quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Farda de Policiais MIlitares é comprada sem controle

Repórteres da RBS TV, da Rádio Gaúcha e de Zero Hora adquiriram uniformes da polícia militar

Sem apresentar qualquer identidade funcional, é possível adquirir uma farda completa da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Realizado por uma equipe da Rádio Gaúcha, RBS TV e Zero Hora em uma loja especializada do bairro Cidade Baixa, na Capital, o flagrante ilustrou reportagem exibida ontem pelo Fantástico, da TV Globo, sobre o descontrole no comércio desse tipo de uniforme, em todo o país.

Inicialmente, os funcionários da loja localizada na capital gaúcha pediram que os repórteres apresentassem a identidade de policial militar. Mas depois de alegar terem esquecido a carteira no carro, camisa, calça, camiseta, cinto e boné foram liberados por R$ 176. O repórter Cid Martins, da Rádio Gaúcha, deixou o local fardado, como se fosse um policial militar. Com a farda, foi possível entrar no Quartel General da Brigada Militar, no Palácio da Polícia e até andar de ônibus, sem apresentar qualquer identidade.

Depois de receber o fardamento comprado pela reportagem, o comandante-geral da corporação, João Carlos Trindade, anunciou o descredenciamento da loja. Segundo ele, um projeto de lei está sendo preparado para aumentar o rigor na comercialização de fardas.

– O problema todo é que ainda não existe uma penalidade para essas empresas que não cumprem essa regra acordada com elas – afirmou o comandante.

Criação de lei específica para o caso será discutida

Um decreto de 1998 regulamenta esse tipo de comércio no Rio Grande do Sul. O texto determina apresentação de identidade funcional antes de cada venda ser concretizada.

Nos últimos dois anos, pelo menos 25 assaltos tiveram a participação de falsos policiais militares no Estado – casos em que os bandidos vestiram fardas da Brigada Militar para praticar roubos.

– A utilização de farda reduz a capacidade de resistência do alvo, da vítima. O vigilante na agência bancária ou na empresa, ao verificar um grupo de pessoas com farda, com uniforme de policia, acaba liberando o ingresso – afirma o delegado Juliano Ferreira, da Delegacia de Roubos de Porto Alegre.

Na reportagem exibida ontem, a equipe da RBS TV também mostrou ter conseguido adquirir fardas em Criciúma (SC) – onde não existe lei regulamentando esse tipo de comércio – e no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, o uniforme foi adquirido pelo repórter Giovani Grizotti, pela internet, e entregue no endereço indicado pelo jornalista – a sede do jornal Zero Hora e da Rádio Gaúcha, na Avenida Ipiranga, em Porto Alegre.

Com a farda de PM fluminense, o repórter caminhou pelo centro do Rio, circulou em meio a PMs cariocas, entrou em prédios com acesso restrito e até numa escola, tudo sem apresentar qualquer documento de identidade funcional.

Para o promotor de Justiça João Barcelos, que atua na Justiça Militar do Rio Grande do Sul, lojas especializadas em vender fardas nem deveriam existir.

– Da industrialização, ela deveria ir direto para a corporação. Não deveria ter intermediário. O Estado é que deveria suprir esse fardamento. O Estado é que deveria pagar e controlar a compra. Não deveria nem estar em qualquer tipo de comércio, ainda que comércio especializado – defende Barcelos.

Em Brasília, o secretário nacional de Segurança Pública Ricardo Balestreri anunciou que, em 15 dias, será criado um grupo de trabalho para discutir a elaboração de uma legislação específica sobre o caso.

– Se nós falarmos dos países desenvolvidos, é praticamente impossível que um cidadão comum compre uma roupa de uso exclusivo de polícia ou de Forças Armadas. Nós podemos nos inspirar na legislação desses países mais desenvolvidos para fazer as adaptações necessárias e criar o padrão brasileiro de rigor na venda de fardas militares – disse Balestre

Fonte Zero Hora 31-08

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