sábado, 5 de setembro de 2009

Em pé até depois da morte



Seu Osório quer ser enterrado em pé, mas não é só isso. Ele quer conforto ao morrer LAURA PÍFFERO
laurapiffero@farrapo.com.br

Uma preocupação, no mínimo, diferente. Enquanto alguns prezam pela qualidade de vida, seu Osório Oliveira da Rosa, 69 anos, quer bem-estar quando morrer.
Depois de se aposentar como pedreiro, profissão na qual trabalhou por mais de 50 anos, ele agora constrói sua casa para quando morrer. Sim, o túmulo dele é praticamente um lar. Com direito a armário embutido na parede, churrasqueira, sacada e mesas ao ar livre, tudo isso distribuído em três andares feitos com muito cuidado e capricho. A obra que vai custar R$ 8 mil começou a ser construída em março desse ano e falta pouco para ficar do jeito que seu Osório quer.
No primeiro andar há uma sala para receber as flores e as orações dos amigos. Ao subir as escadas, o segundo piso terá os caixões, dele e da sua namorada, encaixados na parede, na vertical. Entre os dois caixões terá um altar, para colocar flores e mais uma santinha. Ao lado ficará um armário embutido para colocar os pertences dos dois, como perfumes e roupas.
– Passamos a metade da vida deitados, não quero mais. Quando morrer pelo menos fico em pé – diz ele.
Mas é o terceiro andar que mais chama atenção. Ao ar livre será construído um terraço para receber os amigos. O espaço terá churrasqueira, mesas, sacada, torneira, tudo para garantir a distração do pessoal.
Seu Osório confirma o ditado que diz que “a beleza está nos olhos de quem vê”.
– Fiz esse terraço aberto porque a vista aqui é muito bonita, nem parece um cemitério, dá impressão de que é um monte de casa. O pessoal que vier aqui vai aproveitar – afirma ele.
E quando perguntado sobre o porquê de toda essa preparação, ele diz que apesar de não acreditar em reencarnação, quer continuar tendo conforto.
– A morte é certa, não é? Então tem que preparar tudo direitinho. É tão triste ver aqueles túmulos atirados, e depois que eu morrer nem sei se vão cuidar, é melhor prevenir.
Morador do bairro Nossa Senhora de Fátima, saída para Lavras, ele vai todas as manhãs com um carro de mão e um saco de cimento para o Cemitério das Catacumbas, preparar o seu túmulo. Ele lembra também das duas paixões, que faz questão de levar junto na hora da morte:
- Aqui perto do caixão vai ficar a bandeira do Colorado e a do PT. Isso não pode faltar – avisa.
A ideia já atraiu muita gente que quer comprar o espaço no Cemitério, mas seu Osório afirma que não vende “nem morto”:
- Isso aqui não tem preço.

Fonte : Jornal Gazeta de CS

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